Lançando o sétimo CD de sua carreira, a cantora concede entrevista na qual fala sobre seu medo de envelhecer e a vontade de ser mãe. Aos 38 anos e bissexual assumida, a cantora defende que “filho tem que ter um pai” e que, para ser feliz, é preciso ser sincera consigo mesma
No auge de sua maturidade, Ana Carolina, 38 anos, diz que briga diariamente contra o envelhecimento. Recorre a incontáveis tipos de cremes, hidratantes, xampus e filtro solar. “Fico pensando que quero ficar com a mesma cara. Não quero que nada caia”, diz. Sua vaidade acaba aí: nos palcos, opta por pouca maquiagem, sempre veste preto e sua alimentação é regrada apenas devido à diabetes. “Nunca fui ligada em moda e não vou ser, porque é uma coisa que não me interessa”, afirma.
A cantora acaba de lançar o álbum #AC, no qual abandona as baladas românticas que se tornaram sua marca registrada para mergulhar em uma levada groove. Em vez do som da bateria, scratches do DJ Cia. A entrevista a QUEM foi em sua casa no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio, com vista para a Lagoa Rodrigo de Freitas. Durante todo o papo, a mineira de Juiz de Fora não saiu da frente do computador. Séria, ela fala sobre maternidade, descarta a opção da inseminação artificial e faz um balanço sobre sua felicidade. Entre algumas pausas no meio das respostas, Ana para e pensa com seus botões. Botões estampados com o rosto do ator americano James Dean. E o que não lhe falta são opiniões.
QUEM: #AC tem samba, tango… Acha possível algum dia se dissociar das baladas românticas?
Ana Carolina: Queria um pouco isso. Fiquei conhecida e engessada por esta característica. Não é nem que não goste, adoro cantar balada. E vou cantar assim a vida inteira. Mas queria mostrar que podia fazer um disco de levada, de batida, de groove. É um disco dançante, mais quente, mais abusado, e descaradamente pop. Queria fazer com que as pessoas assoviassem as canções e ficassem com elas na cabeça o tempo todo.
QUEM: Você nunca é vista usando vestido. Por que escolheu um vestido, e vermelho, para a foto da capa do CD?
AC: Os vestidos são muito incômodos. A alça, aperta o peito, a cintura… Na foto tudo estava incomodando, o vestido era o de menos. Tudo molhado (ela aparece dentro de uma piscina), colando nas minhas pernas, mas o resultado ficou maravilhoso. Sabia que a cor do vestido iria dar um efeito interessante com a cor da água. Ficou bem diferente.
QUEM: Roupas pretas são sua marca registrada. O vestido vermelho pode indicar que você está mudando o seu estilo?
AC: (Ela faz uma pausa) Acho um pouco over. Não gosto de chamar mais a atenção do que minha música. Prefiro cantar, tocar, me ocupar com os instrumentos, com a música. Nunca fui ligada em moda. E não vou ser. É uma coisa que não me interessa.
QUEM: Você pode até não gostar, mas é atenta a detalhes. Sua blusa, por exemplo, tem botões estampados com a foto do James Dean…
AC: Botãozinho sim, vai… Tenho uma coleção de botões. Vou sempre a uma loja em Nova York que se chama Tender Buttons. Compro por tema, tenho o da Marilyn (Monroe), mulheres peladas, tem uns em formato de disco de vinil…
QUEM: Apesar de você não gostar de moda, se declara bastante vaidosa. Quais são seus cuidados de beleza?
AC: Uso cremes. Muitos cremes! Para rosto, corpo, tudo. Hidratação, prevenir ruga, peeling… Nunca vou a um médico só. Tenho sempre duas ou três opiniões. Eu me maquio um pouco somente quando faço fotos ou show. Não fico maquiada em casa. Também uso protetor solar 90. Para os cabelos, faço troca de xampus, uso dois tipos. Acho bom usar o xampu que retira resíduos químicos do cabelo. Tenho um supercuidado.
QUEM: Como encara a proximidade dos 40 anos?
AC: Tenho pavor do tempo passando sobre a gente. A coisa de envelhecer é difícil. Um tombo aos 25 é uma coisa, aos 40 é outra… Temo os perigos que a idade traz, por causa da vaidade. Quero ficar com a mesma cara. Não quero que nada caia.
QUEM: Faria plástica?
AC: Não sei. Faca eu não sei… Prefiro usar 1 quilo de creme a entrar em cinco minutos de faca. Por enquanto, pelo menos, estou achando isso.
QUEM: Você tem parcerias bem-sucedidas, como com o cantor americano Tony Bennett. Qual é a parceria dos seus sonhos?
AC: O encontro da minha vida foi com o Chico (Buarque, que canta a música Resposta da Rita no CD). Não tem um show que eu chore mais do que o dele. Perto dele, deixo tudo cair da minha mão, fico meio sem saber o que fazer. Foi emocionante gravar com ele, chorei muito, mas longe dele. Obviamente, cantar com o Tony Bennett foi um momento importante para minha carreira. É muito importante ter um nome desses a meu lado.
QUEM: Depois de cantar que comeria a Madonna, quem você comeria atualmente?
AC: Deixa eu pensar quem eu gostaria de comer… (faz outra pausa) John Mayer! Eu como ele pelo iTunes. Tenho consumido muito (risos).
AC: Não (ela se recusa a falar se está solteira)… Gosto de namorar, que é a coisa mais saudável que existe. Gosto do sentimento da paixão, é estimulante. Com relação a tudo. A paixão faz com que as pessoas mudem.
QUEM: E o que é mais importante em um namoro?
AC: Um relacionamento é para você viver o exercício da intimidade. É algo bom e complicado. O mais importante é quando as diferenças são conversadas, quando não se passa do limite. É importante abrir mão de coisas suas pelo outro, mas, sobretudo, tem que se ter respeito a você. Não deixar que a intimidade faça com que as medidas se percam. Momentos de solidão são importantes.
QUEM: É ciumenta?
AC: Sou passional, então não posso dizer que não sou ciumenta. Sou mineira… Um pezinho atrás. Desconfiada! Uma coisa boa de fazer, quando se sente ciúme, é não discutir na hora. O que existe para mim é o amor, e não tratos e contratos. Gosto de buscar conforto. Busco felicidade, que é o oposto do conforto, e, às vezes, buscar a felicidade é enfiar a cara na lama.
QUEM: E você é feliz?
AC: Sou, porque só faço aquilo em que acredito. Por isso a felicidade chega para mim. Não tenho problema de ter uma tristeza, isso explica por que minha relação é muito sincera com a felicidade.
QUEM: O que achou do fato de Daniela Mercury ter assumido sua homossexualidade?
AC: Daniela é minha amiga. Foi importante ela falar, ajuda as pessoas a entender a questão. As pessoas eram mais atrasadas quanto a esse assunto. O papo é tão antigo… Angela Ro Ro, Cássia Eller já falaram de maneira legítima sobre isso. Eu nem gostaria que esse assunto fosse tão falado. Porque parece que é um problema. Gostaria que fosse normal.
QUEM: Você já disse que gostaria de ter filhos. Ainda tem esse plano?
AC: Às vezes sim, às vezes não… Andei ficando meio em dúvida em relação a isso. Acredito em relógio biológico. O meu até bateu. Acho que, por causa da carreira, fico com um pouco de medo. O que é para mim está reservado.
QUEM: De que forma o fato de não ter conhecido seu pai (ele morreu quando ela tinha 2 meses) influencia seu desejo de ser mãe?
AC: Acho que o filho tem que ter um pai. Não faria uma inseminação artificial, em princípio, sem conhecer o pai. Não faria isso sem ter a figura masculina.
QUEM: Pensa em mudar o estilo de vida?
AC: Eu penso em dar uma parada, fazer outra coisa, ser dona de padaria ou sei lá o quê. De repente, vai que fico de saco cheio! A minha vida não é brincadeira. Estou meio viciada na história da música, de fazer show. Não pensei no que fazer. Depende do momento. Será?